Como organizar o processo de produção do seu podcast
Um tempo atrás, nós escrevemos sobre o processo de produção de um episódio do 37 Graus, desde a ideia de pauta até os últimos ajustes. Nossa cadeia de trabalho se assemelha à de outros podcasts narrativos e existem etapas comuns a qualquer programa, mas a verdade é que cada projeto e cada equipe tem um jeito de se organizar.
Alguns podcasts podem ser feitos de cabo a rabo por uma pessoa só. Outros contam com equipes enormes e cargos bem definidos, exigindo minutos de créditos ao final dos episódios. Há também aqueles que possuem uma equipe fixa enxuta, mas contratam serviços adicionais para preencher lacunas na linha de produção.
Da mesma forma, determinados formatos de podcasts demandam um grande esforço de preparação e pré-produção, enquanto outros se alongam na pós-produção, depois de todos os materiais e áudios já terem sido coletados.
Seja qual for o caso do seu programa, é importante entender as etapas básicas do trabalho, assim como as principais funções dentro de uma equipe. Por isso montamos um percurso básico por esses processos, que podem ser combinados e estruturados de diferentes maneiras. Dividimos entre podcast conversacional, seja do tipo mesa-redonda ou entrevista, e podcast narrativo, do tipo audiodocumentário.
Podcast conversacional
1. Definição de pauta e convidado(s)
Geralmente, o primeiro passo da produção de um episódio conversacional é definir a pauta do programa e quem vai ser entrevistado sobre esse assunto ou convidado para participar da conversa. Isso envolve uma boa pesquisa sobre o tema e o participante. Em alguns casos, também pode ser interessante fazer uma pré-entrevista, uma conversa breve para identificar os principais tópicos de interesse e garantir que o papo vai render um bom episódio.
2. Mapa do episódio ou roteiro de perguntas
Com a confirmação do tema e do entrevistado/convidado, é hora de pensar no roteiro que vai guiar a gravação, como uma lista de perguntas ou tópicos para a discussão. O ideal é ter um objetivo claro para o episódio, traçando um percurso de começo, meio e fim. Qual seria o melhor gancho para abrir o papo e fisgar a atenção do ouvinte? E qual seria um bom ponto de parada e despedida? Se o programa tiver quadros fixos, eles também devem estar no roteiro.
3. Gravação
Chegada a hora da gravação, os participantes já devem ter uma boa ideia de qual vai ser o esquema e devem ter recebido todas as orientações técnicas (especialmente no caso de gravações remotas), mas é normal fazer ajustes ou desvios naquele roteiro que você planejou – e isso pode até deixar o papo mais interessante. O que queremos evitar a todo custo é que a conversa fique desorganizada, não chegue a lugar algum ou passe muito do tempo pré-estabelecido, complicando a edição.
4. Montagem e edição de som
Esse é o momento de dar forma e concretizar tudo o que foi planejado, fazendo cortes e costuras no material gravado, além de nivelar volumes, corrigir defeitos e refinar o áudio de maneira geral. Nessa etapa, o mais importante é enxugar os momentos que não ficaram tão legais ou que fugiram do escopo da pauta, com o objetivo de garantir um bom ritmo e um papo cativante para quem está ouvindo.
Caso isso não tenha sido feito na etapa anterior, pode ser necessário que o(s) apresentador(es) gravem uma abertura, um encerramento ou pontes/intervalos do podcast. Também pode ser necessário mudar coisas de lugar, por exemplo, reorganizando a sequência de perguntas para tornar o percurso mais interessante.
Por fim, é o momento de adicionar outros elementos sonoros no podcast, como vinhetas, trilhas, áudios de arquivo e efeitos.
5. Publicação e divulgação
Depois de escutar o produto final e ter certeza de que está tudo certo, é hora de publicar o episódio com um bom título e uma boa descrição. A divulgação pode incluir criação de conteúdo para as redes sociais, produção de vídeos promocionais, e por aí vai.
Funções e equipe de um podcast conversacional
- Produtor: faz a pesquisa de pauta, agenda a gravação com os convidados, elabora o roteiro, monitora a conversa, dá pitacos no que deve ser cortado ou alterado na edição, enfim, faz um baita trabalho de bastidores.
- Apresentador: é a voz e a cara do programa. É quem de fato fala com os ouvintes e senta com os convidados para gravar a entrevista ou conversa. Claro, essa pessoa também deve estar super por dentro da pauta e do roteiro para garantir um episódio redondinho.
- Editor de som: é quem sincroniza, corta, costura, corrige e faz tudo o que for necessário para gerar um bom produto de áudio.
Como dissemos, essas funções podem ser distribuídas pela equipe ou realizadas por uma mesma pessoa. Por exemplo, é comum que o apresentador atue também como produtor. Mas vale pensar que quanto mais intensa for a rotina de produção, maior e mais organizada deve ser a equipe. Podcasts diários, por exemplo, costumam contar com vários produtores para manter a engrenagem funcionando. Também pode ser necessário ter técnicos de captação e múltiplos editores de som para dar conta da quantidade de material.
Podcast narrativo
1. Pesquisa e pauta
Na produção de um episódio narrativo/documental, o passo inicial é definir qual história será contada e entender quais elementos serão necessários para construir a narrativa. Alguns podcasts – como os que lidam com crimes ou História, por exemplo – exigem um mergulho cuidadoso em documentos oficiais e arquivos de imprensa, o que pode levar vários meses.
Nesse processo, também devemos pensar nos possíveis entrevistados ou personagens dessa história, as pessoas com quem o podcast vai querer conversar. Pode ser necessário planejar viagens para gravações, dependendo da pauta.
2. Mapa do episódio ou pré-roteiro
Feito o planejamento e a pesquisa iniciais, é importante esboçar o percurso narrativo do episódio antes de partir para as gravações, para garantir que as entrevistas e captações em campo saiam como planejado. Um jeito fácil de fazer isso é criar um mapa – seja num documento de texto ou usando post-its – com começo, meio e fim, pensando num gancho de abertura atraente, um ponto de virada interessante e um bom desfecho.
Claro que esse trajeto pode e deve mudar após a coleta de materiais, mas isso evita que você chegue ao fim do trabalho sentindo que o objetivo das entrevistas não foi cumprido e que o episódio se perdeu.
3. Gravações em campo e entrevistas
É o momento de colocar em prática o mapa esboçado, pegar o microfone, fazer entrevistas – online ou in loco – e coletar tudo o que for necessário para a história. Vale a pena fazer anotações durante esse processo para registrar impressões e facilitar a navegação pelos áudios. Depois será preciso transcrever e catalogar esse material para dar vida ao roteiro.
4. Roteiro
Com todo esse material decupado em mãos, além das pesquisas que vêm se acumulando desde a primeira etapa, chega a hora de usar a escrita para conectar os pontos e concretizar o percurso da história. O mapa esboçado lá atrás ajuda muito nesse processo, mas, claro, podem ter acontecido desvios pelo caminho. É comum que os roteiros passem por váaarias versões e testes.
O importante é garantir que tudo faça sentido, que a história seja contada de maneira interessante e compreensível, e que o o episódio tenha um bom ritmo e seja capaz de cativar os ouvintes.
5. Gravação da narração
No caso de um podcast narrado, a pessoa que vai apresentar o programa grava o roteiro que foi escrito, seja em casa ou num estúdio.
6. Montagem e edição de som
Nessa etapa, a narração, as entrevistas e as captações em campo são costuradas, fazendo liga com as trilhas, paisagens, áudios de arquivo e efeitos sonoros. Também há um trabalho de refinamento geral do áudio, corrigindo problemas e ajustando cortes, transições e volumes.
Nos podcasts narrativos, a preocupação com o ritmo da história é redobrada. Todos os silêncios, respiros, e entradas e saídas de músicas carregam um papel importante. Alguns programas seguem uma linha mais minimalista, já outros trabalham com paisagens sonoras elaboradas, com múltiplas camadas de áudio.
7. Publicação e divulgação
Aqui o processo é igual ao do podcast conversacional: devemos pensar num bom título e uma descrição atraente, além trabalhar na divulgação para que o episódio alcance o público-alvo.
Funções e equipe de um podcast narrativo
- Produtor: no podcast narrativo, o produtor faz a pesquisa, encontra os personagens e organiza a logística das entrevistas e deslocamentos. Além disso, pode ficar responsável por ir a campo para fazer entrevistas ou gravações externas, transcrever e indexar áudios, e, em alguns casos, até participar da construção do roteiro do podcast.
- Roteirista: é quem usará todo o material coletado para construir o roteiro do podcast. Também pode participar da pesquisa, ao lado da equipe de produção.
- Apresentador: aqui o apresentador também é o rosto do podcast para o mundo e a voz que os ouvintes associam com o programa. É a pessoa que vai gravar a narração e, normalmente, gravar algumas ou todas as entrevistas.
- Editor de som: é quem segue o roteiro para montar o podcast e depois refina a costura de todos os elementos sonoros para produzir a peça final – lembrando que, nos podcasts narrativos em estilo audiodocumentário, a edição costuma ser mais complexa e demorada do que nos podcasts conversacionais.
Vale dizer que essas funções podem ter diferentes nomes e formas de trabalho. Por exemplo, nos Estados Unidos, é comum que o produtor seja um tipo de “faz tudo” nos podcasts, com capacidades que vão desde a pesquisa até a edição de áudio, também aparecendo no episódio para dar voz à história ao lado do apresentador.
Outros profissionais ou funções que podem ser necessários
Tanto no podcast narrativo como no conversacional, podem surgir demandas para outras funções que podem ser executadas pela equipe ou por profissionais externos. Por exemplo:
- Edição de roteiro: alguém que analisa o material que produzido e ajuda a fazer decisões editoriais sobre o que está funcionando e o que não está.
- Diretor ou produtor executivo: responsável pela “visão” do podcast e por coordenar a produção.
- Pesquisador: você pode precisar de um especialista em pesquisa para fazer um levantamento histórico, uma varredura em arquivos de TV e rádio, uma compilação de autos de processos, ou uma vasta leitura de artigos científicos.
- Revisor ou checador: alguém que revisa os roteiros para garantir a integridade das informações. Pode ser especialmente útil em podcasts jornalísticos e/ou investigativos, no caso de histórias com pontos sensíveis, ou caso você esteja falando de uma área que não entende bem.
- Ilustrador ou designer: é quem desenvolve a identidade visual ou cria ilustrações especiais para a capa e divulgação de episódios e temporadas.
- Músico: alguns podcasts usam bancos de trilhas sonoras, mas outros trabalham com músicas originais, compostas especificamente para aquela série ou para o episódio.
- Webdesigner: pode ser necessário contratar profissionais para desenvolver um website que vai abrigar materiais bônus e transcrições de episódios.
- Mixagem e finalização do áudio: em algumas equipes, há alguém que monta o episódio com todos os seus elementos e outra pessoa que chega na etapa final para fazer ajustes mais precisos na mixagem, deixando o episódio pronto para a publicação.
- Profissional de marketing: é quem pensa na segmentação da audiência e nas estratégias de crescimento e difusão do conteúdo, além de atender demandas comerciais como venda de anúncios, parcerias pagas etc.
- Gerenciamento de comunidades e redes sociais: são pessoas que atuam na divulgação do programa nas redes sociais, no planejamento estratégico dessas redes e no manejo da comunicação com a comunidade de ouvintes.
- Financeiro: pode ser necessário ter alguém para fazer o controle dos gastos, o manejo de responsabilidades fiscais, os pagamentos e a prestação de contas.
Enfim, essa lista é praticamente infinita. No 37 Graus, já contratamos até cantora de ópera e um físico para nos dar aulas sobre teoria da relatividade e energia escura.
Como falamos anteriormente, as funções na produção de um podcast variam muito de acordo com o projeto. E, em muitos casos, uma mesma pessoa desempenha múltiplos papéis. Fazer de tudo um pouco é a realidade da maioria dos produtores, principalmente no cenário independente.
O importante é ter certa clareza sobre onde acaba uma etapa ou uma função e começa outra, o que ajuda a otimizar os processos, identificar lacunas, gerenciar pessoas, e até a montar propostas e orçamentos para editais ou potenciais patrocinadores.