Dicas para gravar em casa com qualidade

Dicas para gravar em casa com qualidade

Da escolha do cômodo às medidas de redundância para nunca perder uma entrevista

Para boa parte dos produtores e apresentadores de podcast, gravar 100% em casa já era uma realidade antes da pandemia. Mas muitos de nós tivemos que passar por um processo de adaptação.

Tivemos que dar uma pausa nas entrevistas em pessoa, na captura de cenas na cidade, na gravação lado a lado com nossos co-hosts e convidados, e nas idas ao estúdio para gravar narrações e offs.

Nesses últimos meses fazendo tudo de casa e à distância, alguns fatores ficaram mais evidentes. Percebemos que a internet das nossas casas dá muito mais problema do que imaginávamos e que nosso bairro é muito mais barulhento do que pensávamos. Paciência.

Mas existem alguns cuidados que podemos tomar para esse processo ser menos doloroso e para as nossas gravações não terem um jeitinho caseiro (mesmo sendo feitas de casa). 

Garanta o kit básico

Tem quem use um gravador como interface de áudio e tem quem use um microfone que pode ser plugado diretamente no computador. Tem quem prefira fazer a gravação direto no software de áudio e tem quem prefira fazer isso no gravador para depois passar o arquivo para o computador. 

Tudo isso, claro, sempre monitorando tudo com fones de ouvido supra-auriculares (os headphones, que cobrem a orelha inteira), que ajudam a notar qualquer ruído ambiente e a perceber melhor a qualidade da voz. E também sempre ficando de olho no gráfico de volume. O ideal é que os picos fiquem entre -12 e -6 dB. 

De modo geral, podemos dizer que as duas principais combinações são:

  1. microfone com cabo XRL + suporte ou tripé para o microfone + interface de áudio + fones supra-auriculares + computador com software de áudio
  2. microfone USB + suporte ou tripé para o microfone + fones supra-auriculares + computador com software de áudio

No mercado, existem equipamentos para todos os bolsos (em breve teremos um post sobre isso aqui no Cochicho). Busque recomendações na internet e entre seus amigos. Compare gravações feitas com microfones diferentes.

Veja o que melhor se encaixaria no ambiente que você tem disponível e nos objetivos do seu podcast:

  1. Microfones dinâmicos são resistentes, versáteis e têm pouca sensibilidade na captação. Ou seja, ele não pega todo e qualquer barulhinho que acontecer na casa. Exemplos: Shure SM58 e Shure SM7B.
  2. Microfones condensadores são bastante sensíveis e capturam os sons com grande definição. São ótimos se a sua ideia é capturar cenas acontecendo ou sons em campo. Mas, para quem quer gravar a narração em casa, num ambiente pouco controlado e cheio de ruidinhos, ele pode não ser a melhor opção. Exemplo: Rode NTG5.

Se você apresenta o podcast com outra pessoa, o ideal é que vocês tenham equipamentos parecidos e gravem em ambientes semelhantes (falamos de ambiente aqui embaixo). Assim a transição entre as duas vozes ficará mais suave.

Escolha bem o cômodo que vai virar estúdio

O melhor cômodo da casa é aquele que consegue te oferecer o maior silêncio e o menor eco. O ideal é que você faça algumas gravações-teste em diferentes lugares para perceber os ambientes e chegar na melhor opção, mas algumas coisas são fáceis de notar logo de cara. 

  1. Cômodos pequenos têm menos eco. 
  2. Quanto mais irregulares e absorventes forem as superfícies (prateleiras com livros, arara de roupas, tapetes, poltronas, cortinas), mais macio fica o som. 
  3. Quanto menor o contato com o mundo externo (menos janelas e portas), menor a chance de ruído. 

Existem também diversas opções de placas e painéis acústicos que você pode comprar para cobrir as paredes e, assim, deixar o som mais macio. Mas, de modo geral, pendurar cobertores em volta de você (pegando atrás, lados e em cima) e estender um tapete pelo cômodo já ajuda bastante

Quem tem closet já fica na vantagem.

Encontre o melhor horário para gravar

Por aqui, costumamos dizer que o início da noite, por volta das 18h-19h, é o horário do cachorro louco. Parece que todos os cachorros do bairro começam a latir e uivar em sinfonia. Mas cada bairro tem as suas particularidades e cantorias caninas. 

Preste atenção ao seu redor e tente perceber quais são os horários mais silenciosos. As madrugadas costumam ser nossas amigas, mas também são um sacrifício para muita gente. Talvez o fim da noite ou o comecinho da manhã (se você não se incomodar com a sua voz matinal) sejam boas opções.

Outra coisa para levar em conta é a rotina da sua casa. Sempre que possível, avise as pessoas que moram com você que a gravação será em determinado horário. Peça que mantenham o maior silêncio possível, ou que fiquem de portas fechadas, em cômodos mais distantes do seu “estúdio”. 

Para quem vive com bebês ou crianças, o desafio é maior. Uma opção é gravar num horário em que eles já/ainda estejam dormindo.  

Entrevista remota 

Para quem faz podcasts documentais e de reportagem, deixar de fazer entrevistas pessoalmente e passar a gravar tudo por internet talvez seja a parte mais dolorida desse processo de adaptação.

Sabemos que falar por Skype nunca será igual ir a campo e que descobriríamos muito mais coisas sobre nosso entrevistado se fôssemos até a casa ou o escritório dele, em vez de apenas olhar para um quadrado na tela do computador. Mas podemos pensar no que fazer para que essa entrevista seja a melhor possível em termos técnicos.

Ao fazer uma entrevista remota, a sua preocupação deixa de ser só sobre o seu áudio e passa a ser também sobre o áudio do entrevistado. São dois microfones e dois ambientes para cuidar.

Existem plataformas que fazem a gravação das duas pontas, como o Zencastr, que é gratuito e salva cada pessoa em uma track separada (o que ajuda muito na edição do programa). O Zoom também permite gravar em faixas separadas, mas a versão gratuita só dá tempo ilimitado a chamadas com até duas pessoas (do contrário, o limite é 40 minutos).

Seja qual for plataforma que você escolher, para garantir a qualidade do áudio, o ideal é que você também grave o seu lado de forma independente, usando o seu kit de equipamentos e o seu software de áudio. Assim, uma ponta já fica resolvida. 

Controlar a outra ponta é muito mais difícil, mas com a colaboração do seu entrevistado tudo se resolve. Primeiro, se possível, peça que ele use um fone de ouvido com microfone (aqueles que vêm com o celular) para conversar com você. Oriente que a pessoa escolha um cômodo com bom sinal de wi-fi e razoavelmente silencioso, com o menor contato possível com os ruídos externos. E lembre-se de dar os avisos que você daria numa entrevista presencial, como evitar batucar na mesa ou digitar enquanto fala.

Na sua ponta você garantiu um backup. Você está gravando a chamada (por Zencastr, Zoom ou outro) e está se gravando com os seus equipamentos. Do outro lado da conversa, o lado do entrevistado, é importante garantir essa redundância também. Peça que a pessoa ligue o gravador do celular e deixe-o sobre a mesa enquanto vocês conversam. E, antes de desligar a chamada, peça que te envie o arquivo de áudio por e-mail.

Assim, além de ter maior segurança (seu pior pesadelo seria perceber que um problema técnico fez você perder a gravação inteira), você também ganha a opção de ouvir os dois áudios e escolher o melhor para usar no programa.

Outras leituras:

NPR Training | Professional sound from a DIY studio: It can be done! 

Transom | Grabaciones durante la pandemia del coronavirus

PRX | How to Record Audio For Your Podcast – Podcasting 101 (com legenda em português)

Bello Collective | Remote Audio Recording Guide: Zencast