Três compromissos éticos para evitar transtornos

Três compromissos éticos para evitar transtornos

Tu te tornas eternamente responsável pelo podcast que publicas

Pensar sobre ética e responsabilidade faz parte da rotina de qualquer profissional. No mundo dos podcasts, não seria diferente.

Estes três lembretes vão beneficiar você e os seus entrevistados.

1. Seja claro sobre a pauta

Na hora de entrar em contato com potenciais entrevistados, diga qual é o assunto do episódio e o objetivo da conversa. Você não precisa enviar previamente um roteiro completo de perguntas, mas, no geral*, não é legal pegar as pessoas de surpresa ou mentir sobre as suas intenções. Quanto mais controverso o tema, mais cuidadoso deve ser esse acordo

*Alguns programas investigativos que visam fazer denúncias seguem protocolos diferentes.

2. Diga não à sonora fora de contexto 

Diferentemente dos podcasts conversacionais, os podcasts narrativos ou documentais selecionam trechos de entrevistas e costuram posteriormente à narração. O ouvinte escuta apenas os recortes das falas, e não uma conversa na íntegra ou pouco editada. Nesse caso, sempre revise o roteiro para checar se há falas tiradas de contexto. Será que o corte distorce o que o entrevistado quis dizer? Será que a montagem é fiel ao que foi dito? 

Por exemplo, se o entrevistado disse algo como:

“Eu acho X. Mas, pensando bem, não dá para deixar de considerar Y. Na verdade, essa é uma pergunta muito difícil de responder.” 

Evite fazer um corte do tipo: 

“Quando perguntado sobre o assunto, fulano respondeu: ‘Eu acho X.'”

3. Vai confrontar? Quem sabe faz ao vivo

Se o entrevistado disser alguma coisa que você gostaria de confrontar ou discordar, o mais honesto é fazer isso diretamente na gravação, no momento da entrevista. Deixar passar batido e só depois, no episódio, contestar o que a pessoa disse – sem direito de resposta – pode gerar uma situação desconfortável. 

Obs.: Claro que não tem problema você corrigir, na sua narração, uma data incorreta que foi dita pelo entrevistado, ou mesmo discordar de uma opinião inofensiva (por exemplo, sobre qual seria o melhor filme de determinado diretor). Aqui estamos falando especialmente de pautas mais delicadas ou com potencial de gerar conflito.   

Dois exemplos recentes de repórteres que confrontaram seus entrevistados no momento ideal, “ao vivo”: 

  • Carol Pires no primeiro ato do episódio “Narradores não confiáveis“, do Rádio Novelo Apresenta. Em diferentes momentos, Carol confronta diretamente o entrevistado sobre suas atitudes e opiniões. No final, ela ainda questiona se ele estaria acreditando em mentiras.
  • Chenjerai Kumanyika no primeiro ato do episódio “The Problem with Ghosts“, do This American Life. No final do ato, o produtor confronta um dos entrevistados sobre a veracidade de uma história contada e as consequências de perpetuar essa narrativa.