Divulgando um podcast nas redes sociais

Divulgando um podcast nas redes sociais

Não temos fórmula mágica, mas temos oito passos para te ajudar no planejamento

Alguns dias atrás, recebemos um depoimento do Matheus Salustiano, jornalista, produtor e apresentador do Umbandacast.

Talvez uma das maiores dificuldades em ter um podcast se tornou, de início, a mais fácil: publicá-lo. Sim, foi até mais fácil do que pensei. Nem precisei olhar um daqueles tutoriais que a gente encontra por aí na internet. Mesmo assim, atentei-me a todos os detalhes, inclusive aqueles que muitas vezes até passam despercebidos na pós-edição, como um chiado aqui, um corte mais abrupto ali – melhor prevenir, né? 

Feito isso, lembro bem da confiança que senti ao apertar o botão ‘Publicar’ na plataforma onde o podcast está hospedado. “É isso”, pensei, ‘boa viagem pela podosfera, agora é só aguardar’. E aguardei. Aguardei os primeiros plays, que vieram tímidos, quase microscópicos. Foi quando descobri um detalhe tão importante quanto ter um episódio bem editado: a pós-publicação. Ou seja, o trabalho com o podcast estava apenas começando.

Pensar na pós-publicação do seu podcast é fundamental, principalmente se você está no começo dele e quer alcançar mais ouvintes. ‘Legal, ele está publicado, e agora? O que eu faço?’.

Foi então que o Matheus criou as páginas do Umbandacast das redes sociais e começou a pensar em como cultivar uma comunidade em torno do podcast.

Muitos de nós, produtores de podcast, passamos pelo mesmo processo. Gastamos um tempão pensando em pautas, entrevistas, roteiro, montagem, música e finalização do áudio. Depois de tudo isso é que fomos descobrir como fazer esse trabalho encontrar uma brecha na rotina das pessoas.

A não ser que o seu podcast seja parte de uma grande rede ou uma empresa de mídia com público bem estabelecido, a divulgação passa inevitavelmente pelas redes sociais. Elas não são tudo, talvez não sejam nem o principal meio de promoção — ter o seu podcast citado em outro programa parece ser o melhor jeito de angariar ouvintes —, no entanto, posts e interações no Twitter, Instagram e outros canais ajudam a aproximar os ouvintes dos produtores, além de tornarem os episódios muito mais compartilháveis.

Aí surge a questão: como fazer? O que postar, quando, onde, em que formato? Não temos as respostas, infelizmente. Quando se fala em redes sociais, não há receita pronta ou fórmula mágica que funcione para todo podcast. Tudo depende do público, da disponibilidade da equipe, do orçamento, do programa em si. Sem falar nos algoritmos, que mudam a todo momento.

No mundo ideal, todos nós teríamos grana para contratar gente que manja do assunto. No mundo real, a maioria de nós faz o que pode, quando dá.

O jeito é planejar, testar e observar resultados. E, acima de tudo, entender qual o lugar das redes sociais na cadeia de produção do seu podcast e o que você espera conseguir com as postagens.

Aqui vão oito passos para te guiar nessa organização:

1. Conheça sua audiência

Você já sabe quem é o seu público-alvo, porque você criou o podcast pensando nele. Agora, tente entender em quais redes sociais ele está e foque nessas plataformas. Por exemplo, se você sabe que a maior parte da sua audiência não usa o Facebook, talvez não valha a pena gastar muito tempo lá.

Pense na rotina das pessoas que escutam o seu programa e de que maneira as suas postagens entram nisso. Um podcast diário de notícias pode querer reagir de forma ágil aos trending topics do Twitter, se tiver equipe para isso. Já um programa semanal sobre meditação talvez prefira juntar energias para fazer lives nas manhãs de sábado, momento em que o público está com sede desse conteúdo.

“Por exemplo, eu sei que, no caso do Põe na Estante, muitos ouvintes têm disponibilidade para ver um vídeo do IGTV de uma hora de duração. Mas, se fosse outro assunto, talvez eu não fizesse um vídeo longo.”

Gabriela Mayer, Põe na Estante

A Gabriela Mayer, que produz e apresenta o podcast de literatura Põe na Estante, pensa no Instagram como um lugar para dar continuidade ao clima de clube do livro que o podcast tem. A ideia é chamar o público não só para ouvir os episódios, mas também para ler junto e contar o que achou das obras.

2. Analise a sua rotina

Não adianta nada fazer um planejamento incrível com duas postagens por dia se essa carga não se encaixa na sua rotina de trabalho, ou se for consumir todas as horas que você gostaria de dedicar à produção dos episódios.

Defina quantas horas por semana você quer gastar com as redes sociais e, de preferência, já separe quais dias/horários serão destinados a isso. É muito fácil se entreter montando uma arte e depois perceber que se foi a manhã inteira.

Plataformas de agendamento de posts como mLabs, TweetDeck e Later podem facilitar a organização da semana, mas nem todas as funções das plataformas (threads e enquetes, por exemplo) podem ser agendadas. Esses sites também ajudam a acompanhar o impacto das postagens e, assim, entender o que agradou mais os seguidores.

Outro ponto é identificar que tipo de conteúdo você consegue fazer com menos esforço, aqueles que são mais naturais para você. Por exemplo, para quem é mais tímido em frente às câmeras, fazer um simples vídeo de cinco minutos pode levar horas, com várias tentativas sofridas. Mas, para quem se sente à vontade, gravar stories espontâneos conversando com os seguidores pode ser um jeito mais fácil e rápido de estar presente nas redes sem ter que quebrar a cabeça montando textos e fotos.

O Thiago André, do História Preta, faz vídeos no stories do Instagram falando dos bastidores da produção, comentando sobre leituras, mostrando curiosidades do processo de gravação. Se fosse eu, levaria meia hora só tentando me soltar. Para o Thiago, é moleza.

3. Identifique como o seu podcast pode fisgar a atenção das pessoas

Alguns dias atrás acompanhei um webinar da estrategista de podcasts Rekha Murthy, sobre construção de audiência. Um dos primeiros pontos que ela levantou foi: existem mais podcasts do que nunca; dizer ao mundo “meu podcast existe, venha ouví-lo” já não basta.

Preciso instigar, seduzir, despertar a curiosidade do público para o que o nosso programa oferece. Existem mil e uma maneiras de fazer isso. Um podcast de entrevistas pode escolher apostar as fichas na popularidade de seus convidados, enquanto um programa de história do Brasil pode atrair a atenção postando pílulas de informações pouco conhecidas ou imagens históricas impactantes.

O importante é pensar: o que vai deixar os seguidores com um gostinho de quero mais e, consequentemente, vai levá-los a dar play no podcast — na maioria das vezes, é isso o que a gente quer. Dependendo do objetivo, também vale imaginar que tipo de conteúdo pode estimular o público a participar mais ativamente da comunidade criada em torno do programa.

“Tem gente que não se importa de ouvir os episódios sem ter lido o livro, mas tem muita gente que só ouve os episódios depois de ler o livro. E ainda tem um outro grupo que gosta de ler junto com a temporada para ir discutindo, mandando mensagem e tudo mais. Então eu divulgo com antecedência quais serão os livros da temporada e deixo um post no feed do Instagram. Por exemplo, agora vou postando nos meus stories o que eu estou lendo, tipo: ‘ah, já estou lendo o livro do episódio 2. Quem aí também está lendo?’. 

Gabriela Mayer, Põe na Estante

O planejamento das redes sociais pode e deve fazer parte do calendário de produção dos episódios. Quando estiver pesquisando as pautas futuras, já comece a listar possíveis desdobramentos para as redes sociais. Na hora de gravar ou editar, lembre de tirar fotos. A reportagem vai ter viagem de campo? Registre os bastidores. Se está produzindo um episódio sobre poluição e seu entrevistado comentou que já visitou alguns dos lugares mais poluídos do mundo, peça fotos e vídeos de seu arquivo pessoal (não esqueça da autorização de uso).

4. Busque inspiração

Em 2019, assisti uma palestra da Carolina Guerrero, CEO do podcast/produtora Radio Ambulante. Eu já era fã do programa, mas nunca tinha parado para pensar na quantidade e na diversidade de estratégias que eles usam para manter unida a comunidade de ouvintes espalhada por toda a América, além de outros continentes.

Tem evento presencial, festa no Zoom (festa mesmo, para dançar), clube de escuta, newsletters temáticas, aplicativo para treinar espanhol enquanto ouve episódios, lojinha, playlists colaborativas de música latinoamericana. No Twitter, os mais de 320 mil seguidores são convidados a compartilhar histórias de seus países e a brincar com as tantas variações da língua espanhola. E a cada novo episódio, são postadas figuras chamativas e frases que dão uma coceirinha na orelha: “eu preciso escutar essa história”.

Sempre penso nas campanhas do Radio Ambulante quando preciso de inspiração. Vou lá, espio, fuço, anoto.

Ter referências na manga ajuda a aquecer as ideias e a pensar em estratégias que possam funcionar para o seu podcast — você não vai copiar, é claro.

Navegue pelas redes sociais dos seus programas preferidos ou daqueles que fazem um bom trabalho nas redes. Salve os posts, veja os comentários, note como foi o engajamento com o público. Identifique quais elementos chamaram a sua atenção e a dos demais seguidores. É uma ótima lição de casa.

5. Ache o tom

Estamos acostumados a ver a Netflix postando nas redes como se fosse nossa amiga, numa linguagem informal, divertida e até irônica. Já os grandes jornais costumam escrever de maneira mais séria, mais contida, bem direto ao ponto.

As redes sociais do seu podcast também precisam de um tom. Não existe certo e errado, mas tente pensar num estilo de escrita que combine com o programa. Dependendo do público e da temática do podcast, a linguagem pode ter mais ou menos gírias, mais ou menos piadas internas.

Além disso, defina de quem é a voz que publica nas redes. Em alguns podcasts, faz bastante sentido escrever em primeira pessoa — por exemplo, quando os seguidores sabem que quem faz os posts é o próprio apresentador —, em outros, nem tanto.

No caso do Vida de Jornalista, por exemplo, o apresentador Rodrigo Alves é uma peça central no programa. A personalidade dele nos cativa tanto quanto as pautas. Por isso, não soa estranho quando encontramos na página do Vida, entre uma notícia aqui e a divulgação de um episódio ali, um tuíte mais pessoal e divertido. A gente automaticamente lê aquilo na voz do Rodrigo.

No 37 Graus, podcast que produzo e apresento ao lado da Sarah Azoubel, também usamos a primeira pessoa, mas do plural. Queremos que os seguidores imaginem Bia e Sarah escrevendo cada post juntas.

6. Fique de olho no que funciona

Às vezes, passamos horas montando um post que depois acaba não fazendo sucesso, fica às moscas. Outras vezes, postamos uma simples pergunta e ela gera uma avalanche de compartilhamentos e respostas dos seguidores.

Analise suas publicações de maior sucesso e tente identificar padrões. Meus ouvintes piram quando dou dicas de filmes relacionados ao tema do episódio? Piram ainda mais quando peço que eles deem as dicas de filmes? Fique atento a tudo isso.

“Na pandemia, muita gente começou a me escrever dizendo que estava com dificuldade de se concentrar. Aí eu comecei a dar algumas dicas para se concentrar melhor e tal. Eu propus: ‘o que vocês acham, então, da gente fazer leituras coletivas? A gente vai lendo os livros aos poucos e trocando sobre ele’. Isso começou a ser feito na pandemia e virou meio que um outro clube de leitura que não o do podcast. Eu colocava dois livros em votação, a gente escolhia e marcava: ‘ó, dia tal vai ter uma live para a gente falar até a página X’. Aí todo mundo lia e participava da live. Foi muito legal e acabou fazendo com que algumas pessoas que não tinham o hábito de ouvir o podcast começassem a escutar. 

Gabriela Mayer, Põe na Estante

7. Fisgue pelos olhos

Eu sei, a nossa pira é o áudio, mas não tem saída. Se você vai criar um Instagram para o seu podcast, o feed precisa agradar aos olhos.

Há algumas alternativas para quem não nasceu com a arte nas veias e nem tem orçamento para agregar um artista na equipe: apostar em ferramentas como o Canva, que oferece uma série de templates para você customizar — designers, não me matem —, ou encomendar com um profissional um pacote de templates baseado na identidade do seu podcast — será que me redimi?

A segunda opção, se couber no orçamento, faz toda a diferença. Além disso, cogite encomendar ilustrações temáticas para os episódios ou temporadas. Assim como as frases marcantes, os desenhos têm grande potencial de seduzir a audiência.

Já na hora de postar trechos dos episódios, plataformas como o Headliner facilitam muito o trabalho. O Headliner permite que você combine uma imagem e um pedaço de áudio para criar um audiograma, que nada mais é do que um videozinho. Há diferentes formatos (paisagem, vertical, quadrado) e você pode colocar uma onda sonora em movimento, legenda, logo do podcast etc.

Dica rápida: ainda falando sobre fisgar pelos olhos, quando for postar o link do seu podcast ou episódio no Twitter ou Facebook, sempre verifique se eles estão gerando cards (aquele banner que aparece após a publicação) corretamente. Use o Card Validator para ter uma prévia disso. É muito frustrante postar um link e depois perceber que ele gerou um quadrado em branco, que não dá vontade nenhuma de clicar.

8. Responda, converse

Você deu o sangue para planejar todos os posts da semana, sempre pensando no que iria encantar seus ouvintes e seguidores. Agora os posts estão recebendo curtidas, compartilhamentos, comentários. Sucesso!

Mas o trabalho ainda não acabou: falta devolver o carinho recebido.

Você não precisa ficar online o tempo inteiro, mas reserve alguns momentos do dia para checar as postagens e interagir com os comentários, além de responder as mensagens que chegam no privado. Com o tempo você vai guardar os nomes e até ficar íntimo dos ouvintes que sempre voltam.

“Costumo usar a caixinha de perguntas do Instagram para as pessoas contarem o que estão lendo, o que gostariam de ler, qual foi o melhor livro que leram no ano. Para mim isso funciona muito, as pessoas participam muito, muito. Tem vezes que é até difícil de compartilhar todas as respostas que chegam.”

Gabriela Mayer, Põe na Estante

Aproveite as interações para entender mais sobre a sua audiência e ter ideias para os episódios. Sinta quais assuntos geraram mais burburinho nas redes e quais foram recebidos de forma mais quieta, por exemplo. Faça das redes um termômetro.