Devo comprar uma interface de áudio ou um gravador?
Quem já se aventurou pela produção de podcasts sabe que há muitas possibilidade de equipamentos para usar, o que pode ser um tanto confuso. Nós já falamos um pouco sobre como escolher um bom microfone e um headphone para monitorar o áudio. Mas, a não ser que você opte por um microfone USB, ainda falta uma peça essencial nesse quebra-cabeça: um gravador ou uma interface de áudio.
Quando usamos microfones tradicionais, esse equipamento serve para converter o sinal analógico para o digital, e assim permitir que você grave o seu áudio no computador ou num cartão de memória.
Mas qual opção é melhor para você: o gravador ou a interface?
Pense no que você vai gravar e em que ambiente
O primeiro ponto é considerar quais tipos de gravação você pretende fazer. Você quer um equipamento para gravar cenas em campo? Pretende ir até as suas fontes para gravar entrevistas in loco?
Se a resposta for sim, um gravador provavelmente é a melhor opção para você, já que tem a vantagem de ser portátil. Um aparelho como o Zoom H5, por exemplo, é leve e prático para carregar por aí. Você pode até comprar uma bolsinha do mesmo fabricante e prendê-la com alças, caso queira andar com o equipamento pendurado no ombro.
No 37 Graus, nossos áudios externos são todos captados com um Zoom H5. Esse modelo permite conectar dois microfones pelas entradas XLR (ou P10) inferiores e também conta com um par de microfones XY estéreo (esse módulo serve também para conectar um microfone de lapela). Também é possível comprar um acessório para conseguir acoplar mais 2 microfones no lugar do módulo XY. Dá para gravar o áudio das várias entradas em diferentes faixas, simultaneamente.
Outra opção é o Zoom H6, que vem com mais entradas para microfones e, por ser maior, oferece mais visibilidade nos controles e no monitoramento do áudio. Ele é menos prático de carregar por aí, mas pode ser uma boa opção para quem precisa de um híbrido entre o gravador e a interface. A qualidade do áudio parece ser equivalente no Zoom H5 e no Zoom H6.
Esses gravadores também podem ser conectados a um computador, com um cabo USB, para funcionarem no modo interface, mas não são a melhor opção para esse tipo de uso.
Se você só faz entrevistas remotas ou grava o podcast sozinho, sem precisar se deslocar para fazer captações, a interface de áudio ganha no quesito praticidade. Afinal, se você tem uma estação de trabalho fixa ou um home studio, vai ser muito mais confortável ter a sua interface sempre ligada ao seu computador e microfone, ocupando um lugar cativo sobre a mesa ou em uma prateleira.
A maioria das interfaces se conecta ao computador via cabo USB e, diferentemente dos gravadores, não conta com cartão de memória. Você simplesmente deve configurar a entrada e a saída de áudio no seu software de captação e edição de áudio (Adobe Audition, Pro Tools, Reaper, Audacity etc.) e suas gravações serão registradas diretamente no seu HD.
Existe uma grande variedade de tipos de interface, desde as que permitem conectar 8 ou mais microfones de uma vez só e possuem um número enorme de controles do sinal de áudio, até as mais simples, que recebem apenas um único microfone.
Uma vantagem das interfaces é que, dependendo da qualidade do aparelho, elas podem ter pré-amplificadores mais potentes do que os gravadores, o que significa uma qualidade melhor do som captado e um nível menor de ruído de base.
Para gravar a voz no podcast, você precisa de uma interface com um bom pré-amplificador, mas não necessita de tantos controles quanto quem grava música e precisa configurar diversos instrumentos. Nesse quesito, uma opção popular são as interfaces Scarlett da marca Focusrite. Eu gravo as minhas narrações na Scarlett 2i2.
Há diferença na qualidade do áudio?
Aqui é importante deixar claro que existem muitas marcas e modelos de gravadores e interfaces, e que cada produto vai ter uma qualidade diferente para a gravação. Tenho duas das opções mais populares no meu kit: a Scarlett 2i2 e o Zoom H5. Por isso decidi fazer alguns testes para ver como fica a qualidade dos áudios em cada um desses aparelhos.
Testei dois tipos de microfone: o Samson Q2U, um microfone dinâmico com padrão cardioide (mais adequado para narrações e entrevistas “sentadas”) e o shotgun condensador Sennheiser ME6 (ideal para captar entrevistas e cenas em campo).
O teste mostra que tanto o gravador Zoom H5 como a interface Scarlett 2i2 são boas opções para captar áudios com qualidade. A diferença é sutil, e talvez você só a perceba se ouvir os testes com bons headphones.
No geral, sinto que os pré-amplificadores da Scarlett são um tanto superiores, e a minha voz fica um pouco mais cristalina e menos “pastosa” do que no Zoom. Essa diferença é mais perceptível quando uso o microfone dinâmico, o Samson Q2U. Também noto que o ruído de base é ligeiramente mais alto no Zoom.
Agora, quando uso o shotgun Sennheiser ME66, sinto menos diferença entre a interface e o gravador, principalmente no quesito ruído. Possivelmente pelo fato desse microfone condensador ser mais “quente”, ou seja, ele é mais sensível e permite uma boa captação mesmo com um ajuste de ganho (nível da entrada de áudio) menor.
Só uma nota final: as narrações do 37 Graus são captadas com outro microfone, o Shure SM7b. Não o testei aqui porque, além de usarmos a interface, plugamos o mic a um pré-amplificador de linha (o nosso é o FetHead, da TritonAudio) para aumentar a sensibilidade da captação. Isso poderia interferir na comparação e dificultar o teste.