Escolha um bom headphone para editar seu podcast

Escolha um bom headphone para editar seu podcast

(Sem precisar vender um rim)

Além do conteúdo de qualidade, da dinâmica dos apresentadores, do formato atraente, da duração adequada e da frequência de publicação, há um item essencial para que as pessoas continuem ouvindo o seu programa: a qualidade do áudio. Afinal, seu podcast está passando pelo canal auditivo de alguém, vibrando o tímpano e percorrendo um caminho até fazer o cérebro traduzir as ondas sonoras em percepção de som. Se a experiência for desagradável, pode ser que o ouvinte de dedinho nervoso aperte o pause logo no começo do episódio. 

Parece óbvio, mas nem sempre a qualidade do áudio recebe a devida importância entre as tantas outras etapas de produção. Após a gravação e a montagem, entram em cena o tratamento de som, a equalização, a mixagem e a masterização. Se tudo isso for bem feito, você vai garantir um áudio de qualidade nas diversas formas que seu conteúdo poderá ser escutado: fones, som do carro, alto-falantes do celular etc. Por isso o headphone que você vai usar para monitorar a gravação e editar o seu podcast importa, sim, e é dele que vamos falar. Ah, e você não vai precisar vender um órgão para comprá-lo.

Produtores musicais, “ratos de estúdio” e afins – com todo respeito – vão te dizer que fones são para ouvir música, e não para guiar o processo de produção de áudio. Eles vão defender o uso dos monitores de referência, que são aquelas duas caixas de som frontais/laterais ao computador do estúdio. Em parte, eles estão certos. Só que isso faz mais sentido no ramo da produção musical, em que você precisa ter muito mais controle sobre as frequências, do que no mundo dos podcasts.

Além disso, podcasts lidam com vozes “limpas”, silêncios e ruídos delicados. É importante que a nossa percepção sobre esses elementos seja atenta, próxima e clara, de um jeito que só bons fones de ouvido podem proporcionar. E nisso os especialistas têm razão: fones que são feitos para ouvir música geralmente não servem – ou servem mal – para a edição de podcasts. Você vai entender o porquê.

A busca pelo equilíbrio sonoro

O que buscamos num headphone para produção audiofônica é que ele seja o mais “neutro” e equilibrado possível, pois assim “você poderá ter uma precisão de qualidade e volume na captação, equalização e na finalização”, conforme explica o técnico de áudio e produtor de podcast Elton Bastos – também carinhosamente chamado de “intelectual do som” ou “mago dos decibéis”.

O principal erro ao adquirir um fone para edição (ou mesmo para escutar música) é não pesquisar antes. Há muito conteúdo em texto e vídeo sobre headphones e essa pesquisa é importante para decidir qual se encaixa melhor na sua necessidade e na sua capacidade de compra.

Elton Bastos, técnico de áudio e produtor de podcast

Eu comecei editando podcast – na cara e na coragem – com um headset LX 3000. Ele já vem com um microfone embutido, tal qual um operador de telemarketing usa. Hoje, ouvindo os episódios do Podcast NHS – primeiro podcast que participei e editei, em 2014 e 2015 – e os primeiros episódios do Serifacast – podcast que venho fazendo desde 2016 –, fica bem evidente que eu não tinha um microfone de qualidade, muito menos um fone de qualidade. O resultado é um áudio sem graça, sem dinâmica e reto. Fazia falta um fone de referência. 

Que tal enumerarmos algumas dicas para te ajudar nesse processo?

  1. Busque fones de referência. Eles são mais flats/neutros/equilibrados e tornam suas decisões de equalização, compressão e volume serão acertadas. Geralmente isso não aparece escrito dessa maneira na caixa ou no manual, mas você pode procurar por descrições como  “monitoring headphones” ou “for studios”.  Também é bom ter em mente algumas marcas que produzem bons headphones, por exemplo: AKG, Arcano, Sony, Audio-Technica, Presonus, Samson, Sennheiser e KRK. 
  2. Prefira fones fechados ou semi-abertos, pois eles te isolam melhor do ambiente externo e te deixam mais concentrado no que você está editando. Geralmente está escrito “closed-back”. E leve em conta o ambiente onde você está editando. Mesmo quem já tem um home studio pode não ter conseguido se livrar dos barulhos domésticos ou da furadeira do vizinho.
  3. Conforto é bom, né? Afinal, você passará horas trabalhando com seus fones. Preste atenção ao peso do headphone. Para você ter uma ideia, 200g (sem contar o peso do cabo) é considerado leve. A partir de 350g já fica um pouco pesado, mas você pode encontrar fones parrudos até mais pesados do que isso. Sobre o material da concha auricular (a parte que cobrirá sua orelha e ficará colado na lateral da sua cabeça), você é quem vai decidir se prefere o material mais próximo do veludo, emborrachado ou couro/couro sintético. Eu prefiro veludo, mas isso é bem pessoal. Ah, o design também é importante, muito mais pelo encaixe na sua cabeça do que por estética. O ideal seria poder experimentar várias opções e sentir a que mais se encaixa no seu gosto e nas suas necessidades. 
  4. Dar atenção ao cabo parece bobagem, mas definitivamente não é. Cabos mais largos e flexíveis são mais indicados, pois ressecam menos e, portanto, tendem a durar mais, evitando mal contato ou rompimento interno. Se o cabo for removível, melhor ainda. Mas já adianto que os fones de referência de entrada não têm cabo removível. Cabos com dois metros de comprimento são suficientes para home studio. Observe também se a conexão é p2 ou p10. Se for p2, observe se já vem com um adaptador p10.
  5. Impedância é um nome feio, quase um insulto. Mas, na verdade, isso é a “alma” do fone. Quanto maior a impedância, maior a capacidade do fone de suportar volumes maiores e melhores. Mas, atenção! Impedância é a resistência do recebimento de energia do fone, por isso, quanto maior a impedância, melhor precisa ser a sua interface de áudio, placa de áudio ou mesa de som. Busque fones com a partir de 32 Ohms, que é a impedância de fones de referência de entrada. Você vai encontrar modelos com até 600 Ohms, mas certamente não vão funcionar num computador comum ou no seu celular – você  precisaria de um equipamento (interface, mesa etc) que traga mais energia para vencer essa resistência maior.
  6. Não vou me deter muito na extensão de frequência, mas veja se, pelo menos, vai de 20 Hz a 20 KHz. Pode ser abaixo de 20 Hz, mas não acima. Pode ser acima de 20 KHz, mas não abaixo. Assim, você não perde frequências ouvidas pelo ouvido humano, que ficam  exatamente entre 20 Hz e 20 KHz. 

Tire o escorpião do bolso, mas mantenha seu rim

Apresentados os principais pontos que você deve observar ao adquirir um headphone de referência, preciso te avisar que não haverá um fone de qualidade razoável por um custo baixíssimo. Como diria Padre Quevedo (se você é muito jovem, talvez não entenda): “isso non ecziste!”. Mas aí entra a questão do custo versus benefício. Não espere encontrar um produto de qualidade e original por menos de R$ 200. Por outro lado, até R$ 300, você tem opções razoáveis como as que eu cito abaixo (só tem um na faixa dos R$ 400).