Tudo o que você precisa saber sobre microfones para podcast

Tudo o que você precisa saber sobre microfones para podcast

Dinâmico? Condensador? Cardioide? Boom? USB ou XLR? Saiba como escolher um bom modelo para você

Podcast é uma mídia democrática e tem muita gente que começa a gravar usando um headset ou mesmo o microfone embutido no fone de ouvido do celular. Sem dúvidas dá para criar um programa legal sem gastar nada, só com os acessórios que já temos em casa. 

Mas, se o seu objetivo for levar esse podcast para outro patamar, a nossa recomendação é investir num bom microfone (não precisa ser o top do mercado) assim que possível. Na maioria dos podcasts, a voz tem um papel central. Garantir que esse áudio tenha boa qualidade e seja agradável aos ouvidos deve estar na nossa lista de prioridades. 

Aqui tem uma lista de algumas das opções mais populares entre produtores.

Para quem não tem uma formação na área do som, nem sempre é fácil navegar pelas opções de microfone. São muitas palavras novas e, a princípio, as especificações podem ser confusas. A ideia deste artigo é fornecer as informações necessárias para você conseguir bater o olho na descrição de um produto e saber se ele tem as principais características que você procura e se atende às demandas do seu podcast.

Perguntas que você pode se fazer antes de mergulhar nas especificações: 

  1. A sua produção é amadora ou profissional? 
  2. Como é o ambiente onde você pretende gravar em termos de ruído e reverberação? Você vai fazer as gravações na sala da sua casa ou num ambiente isolado e com tratamento acústico (um home studio, por exemplo)? 
  3. Vai ter gravações em campo também (ex.: na rua, na casa de entrevistados etc.)? 

Obs.: Alguns podcasts optam por gravar entrevistas e locuções em estúdios profissionais. Nas grandes cidades, já não é tão difícil encontrar um local que ofereça uma boa estrutura para podcasts. Mas, dependendo de onde você mora, você só vai encontrar estúdios voltados a gravações musicais. Antes de montarmos estudiozinhos em nossas casas, experimentamos várias opções aqui em Campinas (SP). A maioria delas não tinha isolamento acústico perfeito (ruídos nos interrompiam de vez em quando) e não contavam com bons microfones dinâmicos (já vamos falar disso). O resultado é que, muitas vezes, optamos por levar nossos próprios mics, usando apenas a estrutura do local. Tudo isso para dizer que mesmo que você pretenda gravar apenas em estúdio, é importante ter um conhecimento básico sobre equipamentos e padrões de captação.  

Padrão de captação: como o microfone capta os sons à sua volta 

  • Cardioide: um padrão de captação cardioide significa que o microfone é mais sensível aos sons provenientes da região frontal ao equipamento, e menos sensível aos sons vindos das laterais ou da parte de trás. Você já usou um microfone que, quando você move a cabeça ligeiramente para um lado ou para o outro e sai um pouquinho da frente dele, o seu som fica baixinho, parecendo que veio de longe? Provavelmente era um cardioide. Os microfones cardioides são muito usados na gravação de podcasts, particularmente para captação de narrações e entrevistas. Justamente porque eles são ótimos para focar em quem está falando e ignorar ao máximo os ruídos do entorno.
  • Hiperdirecional: Os microfones hiperdirecionais (também chamados de boom ou shotgun, já que lembram uma pistolinha) costumam ter um alcance maior e podem ser posicionados mais longe de quem está falando. Como o nome diz, eles são muito direcionais, ou seja, são extremamente sensíveis ao som que vem da região para onde eles estão apontando, como se houvesse uma zona de captação partindo da ponta do microfone. Só que essa zona é mais alongada que a dos cardioides, então, a pessoa que está falando não precisa estar colada no mic. Por isso o boom ou shotgun é ótimo para carregar por aí e gravar entrevistas e cenas em campo. Apontando o microfone para uma pessoa, para um pássaro ou qualquer outra fonte de som que te interesse, esse áudio ficará em foco, como se estivesse em destaque, “à frente” do cenário geral.
  • Omnidirecional: Omni significa abrangente, o todo. Microfones de padrão de captação omnidirecional captam sons de todas as direções, e são comumente usados para entrevistas rápidas, estilo repórter no tapete vermelho. Ele também se concentra no que está pertinho dele (a boca do repórter ou do entrevistado, por exemplo), atenuando os barulhos de fundo, mas, diferentemente do cardioide, recebe sons de qualquer lado. O repórter pode captar a própria voz e a do entrevistado sem se preocupar com “a frente” do microfone. Esse padrão também é comum entre os microfones de lapela, aqueles pequenininhos que podemos prender na roupa, muito usados na produção de vídeos.

Os tipos de microfone mencionados até agora costumam captar o áudio em mono, ou seja, numa única faixa. Para gravação de locuções e entrevistas, isso é perfeitamente OK, já que há uma fonte central de som que queremos capturar. Mas existem ocasiões em que você pode querer ou precisar de um padrão de captação mais aberto, que não seja focado numa única fonte.

Captação X/Y estéreo e similares

Microfones com padrão de captação mais aberto (ou seja, mais abrangentes e menos direcionais) costumam gravar o som em estéreo. Ou seja, são duas faixas distintas, pegando o que entra pelo lado direito e o que entra pelo lado esquerdo. Eles podem ser úteis para quem quer gravar sons ambientes, particularmente para podcasts narrativos que buscam paisagens vívidas e cenas em campo. Esse é o padrão de captação nativo dos microfones X/Y presentes nos gravadores mais populares entre os produtores de podcast, como os das marcas Zoom e Tascam. 

Gravadores como o Zoom H5 possuem microfones do tipo X/Y

As características citadas fazem com que esse tipo de microfone não seja a melhor opção para focar em uma fonte de som específica. Por exemplo, a sua narração não ficará em destaque e poderá ser atrapalhada por qualquer barulhinho do seu entorno, mesmo ruídos discretos, como o ranger de uma cadeira. Da mesma forma, a voz do seu entrevistado pode ficar perdida entre todos os sons da floresta ou da esquina onde ele está posicionado. Quando a ideia é captar uma voz central e também os sons ambientes, o ideal é gravar a pessoa com um microfone hiperdirecional e, simultaneamente, gravar a paisagem com o gravador “aberto”, em estéreo. 

Leia dicas sobre captação externa aqui.

Microfone dinâmico x condensador

Microfones dinâmicos e condensadores são diferentes no que diz respeito à tecnologia utilizada pelos equipamentos no processo de captação e processamento do sinal sonoro. Não vamos entrar nessas questões técnicas aqui, mas o que você precisa saber sobre eles agora é:

  • Microfones dinâmicos são resistentes, versáteis e têm pouca sensibilidade na captação. Ou seja, não pegam todo e qualquer barulhinho que acontecer ao redor. Por isso, o mic dinâmico é uma boa opção para quem precisa gravar a narração ou entrevistas em ambientes que não são perfeitos, como um cômodo da casa ou até um home studio que ainda deixe passar um ruído ou outro. Se um gato miar lá longe ou se estiver caindo uma chuvinha bem fraca lá fora, você tem mais chances de conseguir gravar sem problemas. Em geral, os microfones de padrão cardioide usados para podcast são dinâmicos.
  • Microfones condensadores são bem sensíveis e captam os sons com grande definição. É o caso dos microfones shotgun ou boom, mencionados há pouco. Eles são ótimos se a sua ideia é registrar cenas acontecendo (ex.: você andando por uma trilha) ou ambientações (ex.: feira, praia etc.). Esse tipo de mic pode funcionar para narrações ou entrevistas se você estiver em um local bem isolado de ruídos e com tratamento acústico, como num estúdio de gravação profissional, por exemplo. Mas, para quem quer gravar em casa, num ambiente que não é tão tratado para reverberação e que está sujeito a ruídos de fundo, condensadores não costumam ser a melhor opção. 

Conexão: USB vs. XLR

Aqui a diferença está no tipo de conexão que o microfone vai usar para transmitir o sinal de áudio captado. A maioria dos microfones profissionais possui conexão XLR ou similar, o que significa que eles não podem ser plugados direto no seu computador. Você precisará conectá-lo a outro equipamento, como uma interface de áudio ou gravador, para conseguir gravar o som no seu computador ou num cartão de memória. [Na dúvida entre comprar um gravador ou uma interface de áudio? Dicas aqui.]

Já um microfone USB pode ser conectado diretamente ao seu computador para transmitir o sinal de áudio. A desvantagem é que a qualidade desse áudio costuma ser menor se comparada à da captação de um mic XLR plugado num bom gravador ou interface de áudio. Microfones USB também tendem a ser menos duráveis e versáteis do que os tradicionais.

Apesar disso, para quem está começando a se aventurar na produção e procura praticidade, as versões USB podem ser um bom caminho. Basta conectar o mic ao computador, selecionar a entrada de áudio correta no software de gravação e apertar o REC. Pronto. 

Dicas finais: 

  1. A escolha de um bom microfone também passa por aspectos pessoais. Um equipamento que valoriza a voz de uma pessoa pode não funcionar tão bem para a voz de outra. Se tiver a oportunidade, teste antes de comprar.
  2. Não subestime os ruídos do seu ambiente de gravação. Detalhes que parecem pequenos podem atrapalhar o seu áudio e dar dor de cabeça na edição. O mesmo vale para a reverberação: ela pode parecer sutil no dia a dia, mas pode ficar desagradável no áudio. Aqui tem mais sobre como escolher o melhor local para a gravação.
  3. Para cada escolha de microfone, você pode precisar de acessórios específicos, como pop filter, protetor contra vento, tripés especiais etc. Às vezes é possível comprar um kit em que o mic já vem com alguns acessórios.
  4. O seu posicionamento na hora da gravação é tão importante quanto a escolha de um bom mic. No dia a dia, para locuções e entrevistas, a dica é manter cerca de um palmo de distância entre a sua boca e o microfone, tentando deixá-lo diagonalmente apontado na direção da sua boca.