O que o seu podcast promete?
Você abre o seu aplicativo de podcasts e aí rola aquele breve momento de escolha: “o que vou ouvir?”. A gente nem percebe, mas muitas vezes essa escolha é guiada pela maneira como um programa faz a gente se sentir, até mais do que pelo tema ou formato dele.
Tem horas que tudo o queremos é esquecer do mundo e rir de coisas sem sentido. Pronto, só dar play no Respondendo em voz alta, podcast de humor da Laurinha Lero. Também acontece o contrário, em certos dias a gente não quer esquecer do mundo, e sim se sentir mais parte dele. Precisamos nos situar, precisamos de informações confiáveis e pontos de vista para entendermos o que está acontecendo ao redor. Aí podemos dar play no Café da Manhã ou O Assunto. Já o Pop Culture Happy Hour é a escolha certeira quando estamos em busca de recomendações diretas e sem firulas sobre o que assistir no final de semana.
Tudo isso são promessas, coisas tangíveis e intangíveis que esses podcasts oferecem a quem escuta. Conversamos com a Leila Germano, criadora de conteúdo digital e apresentadora do Hoje tem, sobre a importância de pensar na promessa do seu podcast e como isso pode ajudar em diferentes etapas da produção.
Branding e o podcast como marca
“Quando a gente fala da promessa de um podcast, antes a gente tem que pensar nesse programa como uma potencial marca, porque ele acaba se tornando isso, né? É uma troca, é um relacionamento. E de alguma forma existe um investimento por parte de quem escuta esse programa, que pode ser tanto de apoio financeiro quanto de tempo.”
Leila descreve o branding como a ação de gerir e desenvolver essa marca visando o seu crescimento. “E aí a gente está falando quase como um filho. A diferença da marca para o filho é que a marca nunca vai fazer 18 anos e ir embora. Ela é sua responsabilidade enquanto existir.”
A promessa (ou o martelo e o furo)
“Eu adoro o exemplo do martelo, porque um martelo e um prego não te prometem ferramentas, eles prometem um furo”. Leila explica que, se você tem um podcast de true crime, a promessa não tem só relação com o tema do programa. Ele pode ser apresentado por pessoas tão carismáticas que a promessa é oferecer a experiência de participar de um grupo de amigos que está discutindo ou tentando resolver um mistério. “O podcast entrega momentos de amizade mesmo com pessoas que você nunca viu.”
Nem sempre a promessa do podcast é óbvia desde o primeiro momento. A Leila contou sobre a trajetória do Hoje tem. “Antes eu entendia meu podcast como um programa sobre tudo, sem compromisso com a seriedade. Mas depois de muitos feedbacks, principalmente durante a pandemia, eu entendi que a promessa do meu podcast era rir na cara da informação. Eu sempre trazia cientistas ou especialistas em determinados assuntos, e era um tempo difícil falar de pandemia.” A Leila conta que usar o humor para tratar de assuntos espinhosos fez com que a audiência crescesse. “Não importa se a informação que vem é boa ou ruim, era divertido estar naquela roda escutando.”
Para que serve a promessa?
A Leila conta que uma promessa bem definida traz uma série de benefícios para você e para os seus ouvintes. “Ajuda a identificar um norte conceitual do seu podcast, pode ajudar com títulos de episódios, com temas de temporada, com o conceito geral, e até a construir a comunidade. As pessoas se identificam tanto que elas chegam pra ficar, não é uma coisa efêmera, é um relacionamento sólido. Como consequência, isso ajuda com apoiadores, com o sistema de financiamento coletivo e tudo o que as pessoas que se identificam com o seu projeto podem fazer para viabilizá-lo.”
Além disso, a promessa pode ajudar no relacionamento com potenciais anunciantes e patrocinadores. “Se eu digo que a promessa do meu podcast é rir na cara da informação, além de ser uma boa assinatura, as marcas entendem que é um ambiente good vibes e que é também um ambiente educativo. Então isso amplia espaços para trazer desde livrarias até um refrigerante que fala de um lifestyle de bem com a vida.”
Dicas para entender a promessa do seu programa
- Pense quais universos seu programa habita. Cultura pop? Ciência? Jornalismo? True crime? Bem-estar?
- Reflita sobre a experiência subjetiva do seu programa. O ouvinte dá gargalhadas enquanto escuta? Se indigna com o absurdo das coisas? Ou sente curiosidade para ir mais fundo em algum assunto?
- Identifique o que o ouvinte tira do seu programa depois que ele acaba. Ele aprendeu alguma coisa que nem sabia que precisava? Encontrou a resposta para uma pergunta fundamental? Passou a olhar para o mundo de outra maneira? Descarregou o estresse? Se sentiu acolhido e abraçado pelas histórias contadas? Lavou uma pia de louças sem nem perceber o tempo passar?