O público-alvo e a proposta do seu podcast casam bem?

O público-alvo e a proposta do seu podcast casam bem?

Cuidado para não cair na armadilha do programa nichado demais para um público e genérico demais para outro

Imagine alguém que está produzindo um novo podcast com foco no público adolescente. Até aí tudo bem, a não ser por um *detalhe*: essa pessoa não domina a linguagem e as referências da geração que quer atingir com seu programa. 

Também pense, por exemplo, numa equipe produzindo um podcast para quem faz cerveja em casa. Mas tem um problema: as pautas são muito superficiais para quem já se interessa pelo tema – quem entende de cerveja, já sabe tudo o que está sendo dito. Ao mesmo tempo, o assunto é nichado demais para atrair quem é apenas um bom bebedor, mas não se arrisca a fazer a própria bebida.

Esse é um dos erros mais comuns que vemos por aí. Apesar de bem intencionadas, muitas produções não conseguem alinhar sua proposta e seu objetivo com audiência desejada. O resultado é que o podcast pode cair num limbo em que os episódios não são particularmente interessantes para ninguém. 

Tudo bem ser de nicho

Quando se diz que um podcast é “de nicho”, algumas pessoas tomam isso como ofensa. “Não, nós fazemos para um público geral”, costuma ser a resposta. 

Um aprendizado importante para todo mundo que trabalha com comunicação é que o tal público geral não existe. Nem chocolate agrada todo mundo. Além disso, não há nada errado em produzir um programa para uma audiência específica. Pelo contrário, atender demandas de um determinado grupo de pessoas e conhecer bem essa comunidade podem ser a chave do sucesso de muitos podcasts. 

Tudo fica mais fácil quando você conhece bem o seu público e suas respectivas necessidades. Você vai ter uma ideia melhor sobre o que essas pessoas já sabem e o que querem saber, qual linguagem usar, em quais referências se apoiar, e por aí vai. Até pedir apoio financeiro fica mais fácil quando você se encaixa em um certo nicho.

Um exemplo de podcast que construiu fundações sólidas mirando num público específico é o Vida de Jornalista, do Rodrigo Alves. Já conversamos com ele sobre como ele criou uma comunidade de jornalistas e estudantes de jornalismo ao redor do programa.

Quer mirar num público amplo? Garanta um forte atrativo 

Também não há nada de errado em querer atingir uma audiência ampla, que agrade diferentes bolhas. O desafio aqui é que você precisa ter um forte atrativo. O foco pode estar numa história intrigante, que desperte a curiosidade de muita gente, num assunto pelo qual grande parte das pessoas se interessa, ou numa discussão importante para a vida de muitos de nós. Ou ainda num formato capaz de cativar as pessoas.

Um exemplo de programa que alcançou esse objetivo é o Presidente da Semana, lançado em 2018 pela Folha de S.Paulo e um dos primeiros podcasts narrativos que fizeram sucesso no Brasil. Com formato envolvente e apresentação bem-humoradas, os episódios conseguiram conquistar mesmo quem não necessariamente se interessa por política e pela história do país. 

Mas, claro, estamos falando de um produto feito por um grande jornal. É mais fácil atingir uma audiência ampla quando já se tem uma plataforma de divulgação bem estabelecida – o que não quer dizer que um podcast pequeno ou independente não possa furar a bolha. 

De qualquer forma, é legal pensar em um público prioritário ou imaginar uma pessoa (também chamada de persona) que represente a sua audiência e te ajude a direcionar a proposta, a identidade, o formato e a linguagem do seu programa. Pense em uma pessoa específica, com uma rotina e interesses próprios, e aí busque entender como o seu podcast se encaixa na vida e nas necessidades dela. Outro exercício ainda mais interessante é conversar com pessoas reais alinhadas ao público-alvo.

Para fechar

Originalidade: O mercado de podcasts no Brasil cresceu muito nos últimos anos, e novos programas surgem todos os dias. Nesse cenário, é cada vez mais difícil conquistar a audiência com propostas genéricas. Verifique se a sua ideia é original e se destaca em meio às outras. [mais dicas aqui e aqui]

Mire no seu forte: Por exemplo, se você não tem convivência ou familiaridade com crianças, pense se realmente seria a melhor pessoa para criar um programa para esse público. O mesmo vale para nichos de interesses. E, caso você siga em frente com a ideia, busque parcerias com quem conhece o assunto ou público.