Em Quarentena: um podcast para o dia a dia das periferias

Em Quarentena: um podcast para o dia a dia das periferias

Produção da Agência Mural entrega informações essenciais de um jeito descomplicado

Com tantas notícias falsas circulando pelo WhatsApp e tantas informações essenciais sobre a covid-19 deixando de chegar a quem vive nas periferias de São Paulo, a equipe da Agência Mural de Jornalismo das Periferias começou a pensar num jeito de reverter essa situação. Assim nasceu o Em Quarentena, um programa diário distribuído tanto pelas plataformas de podcast como pelo WhatsApp.

“Nós já tínhamos feito o Podpá!, que era um podcast de entrevista com artistas das quebradas, mas era bem diferente. Queríamos algo novo para levar informações que pudessem ser cruciais neste momento”, explica Ana Beatriz Felício [que aparece na foto acima], repórter da Mural e produtora do Em Quarentena. 

Com a ideia formada, a equipe começou uma maratona para fazer, a cada dia da semana, episódios curtos — a maioria tem menos de 10 minutos — que falassem diretamente às necessidades e particularidades das periferias. Tudo isso guiado pela voz do Vagner de Alencar, diretor da Mural.

Queremos tratar o público com respeito, falar a língua dele e levar em conta os feedbacks que recebemos.

Ana Beatriz Felício

O primeiro episódio foi ao ar no dia 24 de março com a história de Dona Neuci, moradora de Paraisópolis que enfrentava a falta de água justamente no momento em que as autoridades diziam para todos lavarem bem as mãos. Dois correspondentes da Mural — há uma rede com dezenas de repórteres de diferentes localidades de São Paulo — também participam do episódio para falar da dificuldade de encontrar álcool em gel nas farmácias da cidade.

Conforme a pandemia foi se desenrolando, outros temas foram aparecendo. Entre eles, estão o impacto do isolamento social nos cursinhos populares, o funcionamento do auxílio emergencial oferecido pelo governo federal, os motivos da paralisação dos entregadores de aplicativo, e a dificuldade de conviver com vizinhos barulhentos durante a quarentena.

“Parte dos episódios vieram das matérias feitas pela nossa rede. Além do texto escrito, que iria para o site, pedíamos para os repórteres coletarem áudios dos entrevistados por WhatsApp para usarmos no podcast”, conta Ana Beatriz. 

Um ponto-chave desde o começo foi a estratégia de distribuição do conteúdo. O acesso ao Em Quarentena precisava ser tão fácil quanto receber notícias falsas, sem que o ouvinte fosse obrigado a baixar aplicativos como Spotify ou Google Podcasts para ouvir os episódios no celular. Para começar a receber os áudios, basta mandar um “olá” para o número de WhatsApp da Mural. 

“Nós estamos sempre olhando para o público e pensando em coisas novas, em como comunicar em novos formatos com uma linguagem simples, mas sem que seja vazio ou bobo. Queremos tratar o público com respeito, falar a língua dele e levar em conta os feedbacks que recebemos”, conta Ana Beatriz. A lista de assinantes já conta com cerca de 1.500 pessoas, e o retorno tem sido positivo.

Desafios

Criar um podcast do zero exige estudo e planejamento. Fazer isso em pleno isolamento social foi um desafio em dobro. Segundo a produtora do Em Quarentena, uma das maiores dificuldades foi a adaptação ao ritmo de produção de um programa diário, sem tempo para respirar. Tudo isso à distância e com equipe reduzida. “Tinha dias que decidíamos o tema no início do dia para entregar à noite”. 

Ana Beatriz conta ainda que, no âmbito pessoal, um inconveniente foi ter que dividir o espaço de trabalho com a mãe e a irmã mais nova, que está sempre querendo brincar. “Já aconteceu de eu estar fazendo uma entrevista por telefone e a Helena, minha irmã, estar dançando, brincando, gritando pela casa”, relata.

O home office também rendeu imprevistos técnicos, como o dia em que uma queda de energia elétrica não deixou a produtora trabalhar e os ouvintes tiveram que ficar sem episódio. 

Além disso, Ana Beatriz falou do peso de cobrir o impacto da pandemia nas periferias de São Paulo sendo também uma moradora de periferia. “O medo da doença chegar em mim e na minha família é grande”. Ela vive em Carapicuíba, na Grande São Paulo.

Em Quarentena já está na segunda temporada. Escute aqui