O que diz o Digital News Report 2022 sobre podcasts

O que diz o Digital News Report 2022 sobre podcasts

O Cochicho leu o relatório e garimpou as principais tendências sobre conteúdos em áudio

Lançado no final de junho, o Digital News Report 2022 – feito pelo Reuters Institute for the Study of Journalism – oferece um amplo panorama das principais tendências midiáticas para diversos formatos, inclusive podcasts. 

O levantamento tem como base entrevistas feitas entre janeiro e fevereiro de 2022 com milhares de pessoas de 46 países. No Brasil, foram 2.022 entrevistados.

Li o relatório e garimpei as principais tendências para os podcasts e para o consumo de notícias dos brasileiros.

Mais ouvintes

Nesta edição, 34% dos entrevistados afirmaram ter ouvido um ou mais podcasts no último mês – contra 31% na edição anterior. O Brasil não aparece no ranking dos países em que mais pessoas disseram ter consumido conteúdos em áudio recentemente. A lista é liderada pela Irlanda (46%), que tem uma longa tradição com áudio, e pela Suécia (44%), terra natal do Spotify.

Podcast não é mais um enigma

Em comparação com o levantamento do ano passado, a compreensão do termo “podcast” cresceu. “Observando a média de 20 países, estamos confiantes em dizer que o termo é bem compreendido.” Em 2021, o relatório chamou a atenção para a alta porcentagem de europeus (17%) que dizem não saber o que era um podcast. Entre os americanos, onde o formato é bem estabelecido, a taxa era de 9%.

Coisa de jovem

Podcasts são particularmente atraentes para audiências mais jovens, que enxergam o formato como um meio para consumir conteúdos relevantes enquanto realizam outras tarefas. Isso tem feito com que veículos jornalísticos usem o áudio como meio para conseguir mais assinantes com menos de 35 anos. O exemplo citado é o programa The Daily, do The New York Times, que tem inserções de repórteres pedindo para que ouvintes assinem o jornal.

Mais competição

O levantamento destacou os altos investimentos feitos por empresas como o Spotify, Amazon, Google e Youtube para ganhar terreno e acabar com a hegemonia histórica da Apple como plataforma de podcasts. 

A competição tem feito as empresas investirem alto em acordos de exclusividade com podcasts de sucesso – como o Joe Rogan Experience, que ganhou 200 milhões de dólares do Spotify e segue recebendo o apoio da plataforma, apesar das acusações de desinformação e preconceito. A estratégia da empresa sueca tem dado certo: desde o ano passado, o Spotify superou o BBC Sounds e se tornou a principal plataforma de podcasts do Reino Unido.

Esse avanço das plataformas tem causado preocupações entre os produtores de podcasts parecidas com as que surgiram com o crescimento do controle do Facebook sobre o fluxo de notícias. O New York Times, por exemplo, vai lançar seu próprio aplicativo para áudio neste ano, numa tentativa de assumir um controle maior sobre a audiência. Veículos de países como Espanha e Noruega planejam fazer o mesmo.

E os brasileiros?

Os brasileiros não foram grande destaque na seção do relatório dedicada a podcasts, o que mostra que ainda há muito espaço para crescer. Mas outros pontos levantados pela pesquisa sobre o consumo de notícias no país são úteis para guiar a produção de conteúdo em áudio.

Desde 2017, a proporção de brasileiros que dizem evitar o noticiário – de forma geral ou de temas específicos – duplicou. A principal justificativa é a repetição de assuntos ligados a política e pandemia. 

Além disso, os entrevistados afirmam que os jornais afetam negativamente seu humor – essa resposta foi mais frequente entre os menores de 35 anos, que é a faixa etária que mais consome podcasts no Brasil (segundo a Pesquisa Globo Podcast, feita pelo Ibope em 2021, 52% dos ouvintes têm entre 16 e 34 anos).

Os mais jovens também afirmaram desistir do noticiário por achar muito difícil acompanhar as informações. O relatório aponta que isso pode estar ligado à complexidade da linguagem ou à presunção de conhecimento em reportagens.

Diante disso, podcasts podem ser um antídoto para essa repulsa pelo noticiário tradicional, desde que se esforcem para ser acessíveis e cobrir temas variados. Não se trata de ignorar assuntos relevantes, como a Covid-19 e as eleições que se aproximam, mas sim procurar novas abordagens.