Vida de Jornalista: construindo uma comunidade em torno do podcast

Vida de Jornalista: construindo uma comunidade em torno do podcast

Rodrigo Alves fala da importância de se manter conectado com o ouvinte em todas as etapas de produção.

Fazer um podcast de nicho tem suas dores e delícias. Se por um lado a temática  restringe o público, por outro, a relação com os ouvintes pode ser próxima e mais forte. 

Quando lançou o Vida de Jornalista, em agosto de 2018, Rodrigo Alves tinha em mente um podcast que fosse também um ponto de encontro. Um lugar onde jornalistas pudessem se reunir para conhecer melhor o trabalho uns dos outros, escutar boas histórias de bastidores e ficar por dentro das discussões e tendências da área. De lá para cá, o Vida foi conquistando seu espaço na rotina de milhares de jornalistas e estudantes de jornalismo do Brasil. 

O Rodrigo contou para o Cochicho alguns dos aprendizados dessa caminhada. 

O ouvinte como parte da produção

Para mim, o ponto mais importante sobre a interação com a audiência é que eu tento tratar o ouvinte como parte do processo de produção do Vida. O ouvinte não é só consequência, não é alguém que só se torna importante depois que o episódio foi publicado. Isso vale desde a pauta, que pode ser influenciada por alguma sugestão ou um pedido vindo do público, até a produção do roteiro e a gravação da locução, na tarefa de o tempo inteiro trazer o ouvinte comigo. “Vem comigo para a gente tentar imaginar como seria se a gente estivesse no lugar desse repórter”.

Isso acaba sendo vantajoso para mim também, para me ajudar a tomar decisões. Quando entrevistei o José Hamilton Ribeiro, que fala de maneira bastante pausada, fiquei na dúvida se deveria tirar um pouco desses silêncios. Eu salvei um pedacinho da entrevista com e sem as pausas e coloquei no Twitter para as pessoas opinarem. Escutar os ouvintes foi importante nesse processo.

Encontros para além dos episódios

Depois de lançado o episódio, vem a hora de interagir com os comentários e respostas que chegam. Eu tento responder tudo, em todas as redes sociais, nem que seja com um emoji. Além disso, tenho tentado fazer encontros virtuais e lives para aproximar ainda mais a audiência.

Cheguei a fazer também alguns encontros presenciais, quando a gente podia fazer, para bater papo, trocar ideia, conhecer as pessoas de perto. Os ouvintes se sentem participantes e esse senso de comunidade aumenta. 

Entrevistados podem ser multiplicadores

Nessa construção do Vida, fui percebendo que os entrevistados do programa acabam virando multiplicadores. Porque essa pessoa passa o episódio para os conhecidos, divulga nas próprias redes, e assim o alcance vai aumentando e a comunidade vai se conectando.

Uma coisa que me deixa feliz é que muitos jornalistas que sempre foram referência para mim hoje escutam o Vida e têm o podcast como referência também. 

Para garantir a diversidade, é preciso planejamento

Antes de lançar o Vida, eu estabeleci algumas metas para seguir na hora de escolher os convidados e os temas do episódio. Por exemplo, na primeira temporada, eu tinha uma meta de gênero: a cada dez episódios, eu precisava garantir que pelo menos cinco fossem com mulheres. E passei a pensar assim também para questões de raça e de geografia, para ir checando o tempo inteiro e ver se eu estava conseguindo cumprir as metas.

A questão do gênero foi a que me deixou mais satisfeito, o Vida tem muito mais mulheres do que homens entre os entrevistados. O balanço racial melhorou, mas é um ponto que ainda posso evoluir. A questão que me deixa mais insatisfeito até agora é a geográfica, porque ainda tem uma concentração no sudeste. Para a terceira temporada isso vai ser um ponto importante, assim como trazer outros tipos de diversidade, como a sexual e a de pessoas com deficiência. 

É uma via de mão dupla

Esse clichê de dizer que eu aprendo muito fazendo o podcast é totalmente real.  Fazer o Vida mudou bastante a maneira como eu encaro a profissão de jornalista. Hoje tenho uma visão bem mais ampla sobre o jornalismo por conta das conversas que eu tive com as pessoas de áreas diferentes, de pensamentos diferentes.

Você pode escutar o Vida de Jornalista aqui.