Sound Reporting: um guia para jornalistas que estão migrando para o áudio
Sound Reporting é um guia da National Public Radio (NPR), dos Estados Unidos, que reúne ensinamentos de mais de cem jornalistas
O livro é assinado por Jonathan Kern, mas reúne ensinamentos de mais de cem jornalistas da NPR, passando por todas as etapas da produção de uma reportagem, da ética à publicação final.
Algumas das dicas funcionam só para quem trabalha em rádio, mas a maior parte vale também para quem faz ou quer fazer um podcast narrativo.
Ainda não há versão em português, mas selecionamos algumas dicas que podem ajudar principalmente quem está migrando do texto para o áudio, ou melhor, da reportagem feita para ser lida para a reportagem feita para ser ouvida.
- A introdução é a promessa do que virá. Mais do que um lide com as informações básicas, a abertura dos episódios deve funcionar como um gancho para fisgar a atenção do ouvinte. Os primeiros minutos precisam oferecer algo que ele tem que continuar escutando. Algumas das maneiras de fazer uma abertura irresistível são: colocar um fato ou um dado totalmente surpreendente que o ouvinte jamais poderia imaginar, ou uma cena inusitada e instigante, ou um diálogo provocativo entre o repórter e o entrevistado.
- Ajude o ouvinte a entender a história. Diferentemente de uma matéria de jornal, que permite ao leitor voltar facilmente para relembrar um dado do parágrafo anterior, no áudio a chance é única. O ouvinte pode estar dirigindo ou lavando a louça, e talvez não tenha mãos livres para voltar e escutar de novo um determinado trecho. Por isso, coloque lembretes sobre personagens que apareceram minutos atrás e resgate informações que possam facilitar a compreensão da história.
- Escreva falando em voz alta. Quando estiver desenvolvendo o roteiro, pergunte a você mesmo “eu diria isso numa conversa?” ou “eu falaria isso desta forma?”. Se você não costuma dizer palavras como “entretanto” e “contudo” em uma conversa com amigos, melhor substituí-las por outras palavras mais familiares. Tente ser o mais fiel possível ao jeito que você fala quando não está sendo gravado — claro, de um jeito que ainda seja aceitável numa reportagem. E tenha em mente que você está contando uma história e conversando com o ouvinte, e não oferecendo uma aula sobre determinado assunto.
- Mantenha o ritmo da história e o interesse do ouvinte. Uma história contada de forma muito rápida pode atropelar o ouvinte, enquanto uma história muito lenta pode se tornar maçante. Tente encontrar um meio-termo que seja capaz de prender o ouvinte e, ao mesmo tempo, dê a ele a chance de absorver informações e fazer reflexões. Músicas, paisagens sonoras e silêncios ajudam a dar o balanço.
- Grave tudo. Tudo. Você nunca sabe do que irá precisar na hora de construir a reportagem. Então, na dúvida, esteja sempre gravando. Grave o antes, o durante e o depois das entrevistas. Grave os silêncios, e grave, inclusive, suas conversas com você mesmo, suas percepções sobre cenas, lugares e personagens.
- O áudio é tudo o que você tem. Não sacrifique a qualidade dele. Quanto mais o público se habitua aos podcasts, mais exigente ele fica. A variação de texturas (entrevistas gravadas por telefone, sons da rua, áudios de arquivo) ao longo de uma história é normal e até importante, mas garanta que os ruídos não sejam um empecilho para a compreensão da história e nem um incômodo para os ouvidos.
- Gaste um tempo procurando entrevistados que sejam bons de ouvir. Isso, claro, além de serem relevantes para a matéria. Para o ouvinte, é difícil se manter interessado e atento quando um entrevistado fala de maneira apática ou extremamente técnica, por melhores que sejam as informações e análises oferecidas.
O livro:
Sound Reporting: The NPR guide to audio journalism and production
De Jonathan Kern
The University of Chicago Press (2008)