O que seu podcast faz para ser antirracista?
Em maio deste ano, o caso de George Floyd, homem negro que morreu nas mãos da polícia nos Estados Unidos, não só reacendeu o movimento “Vidas Negras Importam” nos EUA — onde vivo e trabalho — e em outras partes do mundo. A tragédia também provocou o começo de uma revolução em centenas de empresas de mídia. Estava mais do que na hora.
Nos EUA, as minorias étnicas e raciais representam 40% da população, mas compõem apenas 17% das redações de publicações impressas e digitais. A grande maioria dos podcasts mais populares são apresentados e liderados por homens brancos.
No Brasil, onde pretos, pardos, amarelos e indígenas somam 57,3% da população, o problema da falta de diversidade na imprensa é ainda mais grave. Apenas 13,5% dos jornalistas do estado de São Paulo são pretos ou pardos, por exemplo, e entre os colunistas dos maiores jornais do país, esse número despenca para 4%.
Dentro e fora de redações, repórteres, produtores e editores estão propondo iniciativas concretas para corrigir essas disparidades. Na verdade, elas vão muito além da composição racial de quem trabalha na indústria. Elas envolvem escolhas desde a temáticas das pautas até o balanço das fontes.
Aqui vão seis perguntas que precisamos fazer a nós mesmos se quisermos produzir um podcast antirracista.
Quem está e não está na sua equipe?
Considerando os dados da população brasileira mencionados acima, examine a composição da sua equipe. Há membros de diferentes grupos raciais e étnicos?
Se a resposta for não, elabore um plano para corrigir o problema por meio de contratações permanentes ou freelancers para curto, médio e longo prazos. Busque candidatos fora das suas redes profissionais de costume e crie um plano para desenvolver estagiários em futuras contratações.
Quem é que manda?
Além de examinar a composição racial da sua equipe, considere a raça e gênero daqueles que estão em posições de poder.
Desenvolva um processo de crescimento para jornalistas pretos, pardos e indígenas e crie processos editoriais onde o grupo, e não apenas os chefes, possam tomar decisões importantes.
Quem dá uma mão?
Com frequência, o maior problema para o sucesso de pessoas não-brancas nas redações não é apenas conseguir um emprego, mas crescer dentro da empresa.
Crie um programa de mentoria para ter certeza que jornalistas jovens estão recebendo o apoio necessário para aprender. Suas ideias estão sendo ouvidas? Eles estão recebendo pautas importantes? Eles têm oportunidades de participar de treinamentos e conferências?
O que vira matéria?
O esforço para produzir um podcast antirracista também está muito relacionado à escolha de temas.
Examine o que a sua equipe decide cobrir — ou não cobrir. Há temas que estão sendo ignorados? Ou temas que são cobertos com muita frequência?
Documente a escolha de tópicos e avalie como os temas em questão estão sendo tratados. Você consegue identificar padrões de escolha ou vieses de ponto de vista? Apresente os resultados e discuta com a equipe como corrigir distorções em pautas futuras.
E as aspas, são de quem?
A grande maioria dos entrevistados nos EUA ou no Brasil são homens brancos. Amplie o seu radar de fontes, evite contatar as pessoas de sempre e busque entrevistados de diferentes gêneros, raças e classes sociais.
Cada produtor e repórter da equipe deve documentar a composição racial e o gênero de cada pessoa entrevistada no podcast. Examinem juntos os resultados mensalmente e discutam áreas que precisam de maior esforço.
Os sotaques são diversos?
Foi-se o tempo em que voz de locutor era tudo igual. Os podcasts transformaram o conteúdo de áudio em algo mais acessível, descontraído e democratizado.
Enriqueça o seu programa com diferentes pedaços do Brasil e do mundo, seja dentro da equipe ou entre os convidados e fontes.
Foto: Kenneth Sousie.