Victor Parolin elenca seis passos essenciais da edição de podcasts

Victor Parolin elenca seis passos essenciais da edição de podcasts

Dicas do editor de Presidente da Semana e Além do Meme vão da organização de pastas à ética jornalística

A edição de som tem fama de trabalho braçal, mas a verdade é que ela pode ser uma das etapas mais criativas da produção de um podcast. Nessa tarefa, os atalhos de teclado ajudam tanto quanto a sensibilidade para escutar as entrevistas e pensar em quem está do outro lado do fone de ouvido. 

Pegamos algumas dicas do Victor Parolin para facilitar e melhorar a montagem e a finalização de episódios. Ele foi editor do Presidente da Semana, da Folha de S.Paulo, participou da criação do Café da Manhã, da Folha em parceria com o Spotify, e mais recentemente trabalhou na edição do Além do Meme, produção do Papel Pop distribuída pelo Spotify. 

1. Organize seu material de trabalho

“Além de ter os arquivos no HD físico, coloque também na nuvem. Se for muito importante, guarde ainda num outro HD. Parece bobo, mas é bizarro quantas vezes eu já fui salvo por ter feito esses passos — ou quantas vezes já sofri por não ter obedecido a minha própria regra.

Perca cinco minutos para renomear os arquivos. Se eles não estiverem organizados, isso vira uma bola de neve de arquivos desencontrados que atrapalha muito o fluxo de edição. Eu sempre coloco a data no começo do título, por exemplo.

Faça uma pasta para áudios de arquivo, outra para locução etc. Renomeie e separe o que é trilha, o que é som de rua. Se tiver som de vídeo do YouTube, já salve com o nome que estava no YouTube, guarde a URL e coloque a data no título do arquivo.” 

2. Customize seu software e ferramentas de edição 

“Tire um dia para entender e conferir os atalhos do programa que você usa. Existe atalho para tudo e geralmente são muito customizáveis. Por exemplo, há um atalho para selecionar tudo o que está à direita na timeline ou sessão. No Adobe Audition, você tem que configurar isso. Eu coloquei na minha tecla A e é muito útil para não ter que ficar lembrando de selecionar tudo.”

3. Lembre que o áudio tem valor de informação

“Às vezes, não parte de quem está fazendo o roteiro a ideia de usar um som como informação. E isso vem do princípio mais básico da narrativa, que é: mostre e não fale. Em vez de falar “chegamos no consultório”, se tiver o barulho do Uber, do cinto de segurança soltando e a porta batendo, você adiciona isso de uma forma mais reduzida no seu roteiro e deixa o texto mais fluido. Isso mostra que, ao mesmo tempo, edição é roteiro e roteiro é edição.”

Pense a edição como um último suspiro criativo do roteiro.

Victor Parolin

Quando o editor de som tem a chance de participar da produção, da escrita do roteiro e das decisões sobre o episódio, há mais espaço para a criatividade.

“Pense a edição como um último suspiro criativo do roteiro. É o momento de repensar para não ficar sempre no modelo fechado de off, sonora, off, sonora. Há formas de introduzir o personagem, de apresentar o entrevistado com uma risada. Isso parte muito mais do editor que escuta a entrevista depois que acontece. A pessoa que fez a entrevista pode não ter essa sensibilidade.”

4. Na hora de cortar sonoras, não deixe a ética de lado

“É uma responsabilidade muito grande, porque você está lapidando o que a pessoa fala. A gente odeia se ouvir e perceber que pegaram só um pedaço da fala, só que a gente faz isso todo dia. A gente faz isso tanto na linha fabril que até se esquece do componente humano. Estamos falando de pessoas, que têm suas reputações.

Às vezes, queremos condensar, mas precisamos pensar em todas as interpretações possíveis a partir daquela fala. Precisamos prestar atenção para não cortar o contexto, ou batalhar para não cortarem o contexto, porque nem sempre é uma decisão nossa.”

5. Salve os presets que podem agilizar o trabalho  

Por exemplo, dos filtros de equalização, compressores e outros tratamentos usados nas diferentes vozes do programa.

“Tenho presets dos hosts recorrentes, por exemplo, [Rodrigo] Vizeu gravando no estúdio, Vizeu gravando em casa, Magê [Flores] em casa e no estúdio. Tudo que você vai gravar mais de uma vez, vale a pena salvar um preset.”

Para os demais entrevistados, seja rápido no diagnóstico. 

“Se o áudio é de telefone e está muito abafado, já sei que vou tirar as frequências mais baixas e mais altas, que tem muito ruído e não ajudam muito para entender o que está sendo falado. Se está meio indistinguível, vou aumentar um pouco as frequências médias e altas para melhorar a dicção. Mas nunca é uma fórmula exata, tem que ir testando. Por isso é difícil.”

6. Teste o áudio em diferentes aparelhos

“Quando terminar de fazer seu mix de edição, escute em diferentes suportes. Verifique se a trilha não vai estar muito alta na caixinha de som JBL, que a galera gosta de usar enquanto limpa a casa; ou que, ouvindo no fone, os graves não vão começar a incomodar.

Às vezes você tem uma sonora com conteúdo muito bom com qualidade de áudio ruim. Então se ela já está ruim para você, que edita e está de fone tentando escutar, para o cara que estiver ouvindo no metrô, em outro tipo de fone, vai ser pior. Nesses casos, uma solução é usar a sonora de fundo e fazer uma narração em cima. O editor tem que ser franco e dizer o que não é compreensível e o que só dá para usar com um off que introduza.”