5 dicas para melhorar o roteiro do seu podcast

5 dicas para melhorar o roteiro do seu podcast

Produtores dão conselhos que vão da escolha de palavras até a narração

Escrever um bom roteiro de podcast significa escrever um texto que será ouvido, e não lido ou assistido. E essa é, muitas vezes, a etapa mais difícil da produção de um episódio.

Perguntamos a cinco produtores o que eles fazem para deixar essa tarefa um pouquinho mais fácil. 

1. “Escreva como você fala”, Thiago André, do História Preta.

“Quando escrevo um roteiro, procuro falar para a tela o que estou pensando e depois escrevo exatamente o que falei. Isso ajuda o meu texto a ficar mais orgânico, natural, criando uma conexão mais íntima com seu ouvinte.

Na escrita é muito comum pôr a atribuição após a citação, por exemplo: ‘devolve meu pandeiro’, disse João da Baiana. Isso pode até funcionar no impresso, mas basta repetir isso em voz alta para perceber que está muito mecânico. Dificilmente, alguém falaria assim no dia a dia. Se fosse um amigo te contado essa história, provavelmente soaria mais parecido com: Aí João da Baiana disse ‘devolve meu pandeiro’.

Falar como se escreve soa pouco familiar aos ouvidos e, dificilmente, alguém vai se conectar com uma história que parece mecânica. Então, a regra de ouro é: se você não falaria desse jeito, não escreva desse jeito.”

2. “Preste atenção no que funciona para o áudio”, Natália Silva, dos podcasts da Folha de S.Paulo. 

“Quando fazemos uma nota sobre uma pesquisa acadêmica que acabou de sair e está no pré-print, é difícil ficar falando que o resultado é parcial, que é um pré-print. A pessoa não entende o porquê de você estar falando isso se ainda não é algo certo. Então, às vezes é melhor dar uma segurada porque ouvir não é o mesmo que ler uma reportagem. Ao colocar notas com muitos dados, também é preciso se perguntar se esses números são realmente necessários ou se vão confundir ainda mais.

Para transpor um texto do impresso para o áudio, outra dica é colocar o texto do lado para ir lendo e digitando, da forma como você explicaria para alguém. É só deixar as duas abas uma do lado da outra para não errar dados e números. Isso faz com que o texto fique mais fluido, porque quase nunca um texto do impresso vai servir integralmente para o áudio.”

3. “Tenha alguém para revisar seu texto”, Jéssica Maes, do Café da Manhã (Folha de S.Paulo e Spotify).

“É necessário ver se as frases do roteiro estão funcionando ou se você tem que escrever de outro jeito. Por isso, além de escrever falando em voz alta, tenha alguém para revisar o texto. No podcast, isso é dez vezes mais importante do que na reportagem escrita, já que precisa soar natural e ser gostoso de ouvir. 

A revisão também é importante para checar se não há nada ambíguo e conferir se as ideias estão sendo retomadas. A gente recupera muito mais informação do que se recupera no impresso para que fique compreensível. O importante é manter a informação simples e em uma ordem cronológica.”

4. “Não leia o roteiro”, Luan Alencar, do Budejo.

“Desenvolva bem o seu timing do que falar. Uma coisa que ajuda muito é não ler o roteiro parecendo que você está lendo um roteiro. Não é um audiolivro, é um podcast. O ouvinte não quer que você leia uma história, quer que você conte uma história. É entender que é um formato diferente, não é escrever um texto e ler para alguém, é pensar na forma de contar. Pensar no formato como um todo, como um jeito mais próprio. É entender que o podcast tem um formato específico.  

Além disso, é preciso pensar no ouvinte. Pode ser um baita conteúdo, mas se você não conseguir passar as informações de uma forma agradável para quem está ouvindo, é tempo perdido. A química e entrosamento entre as pessoas que fazem o podcast também são coisas que ajudam o programa a ficar melhor de ouvir.

E ter uma boa edição é importante também, muita gente se preocupa pouco com isso. Mas uma boa edição pode salvar um podcast, principalmente no começo, quando você ainda está pegando o jeito de como falar. As dicas são: entender o formato, ter uma boa edição e uma boa química com quem você se propôs a desenvolver a ideia. De resto, não tem mistério, é prática.”

5. “Se você não consegue explicar no áudio, consulte um especialista”, Gabriela Viana, do Vozes (CBN).

“Pense em como explicar o que está escrito para alguém que não teve contato com o texto. Especialmente quando lidamos com materiais acadêmicos, temos um certo receio de usar um termo diferente do que está escrito ali e, sem querer, mudar todo o sentido da coisa. Mas, em geral, isso acontece porque, na verdade, a gente não entendeu muito bem o que está sendo dito ali. 

Nessa hora, vale consultar algum especialista no assunto que possa ajudar. Isso significa que você nunca vai poder levar algo escrito para o áudio? Claro que não! Você pode! Mas, se for algo de difícil compreensão, pode também perder seu ouvinte. Nessas horas, vale até brincar com quem te ouve: traz o texto escrito e depois diz ‘se você não entendeu nada, deixa eu te explicar’, e traz a versão mais clara. Tudo depende da narrativa que escolher.”